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Para pensar e projetar cenários no pós-covid-19

Compartilho dez análises e dez dicas para pensarmos tendências, transformações digitais, relacionamento com clientes e formas de aprendizado da atualidade até o pós-pandemia

Luís Rasquilha
30 de julho de 2024
Para pensar e projetar cenários no pós-covid-19
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“Como fenômeno, a pandemia de covid-19 chegou como um tsunami abalando países, mercados, negócios, empresas, pessoas, convicções e a nossa vida real. Mudaram-se as regras e a realidade alterou-se significativamente. Um fenômeno com a capacidade de alterar o curso da história a um nível global não é algo que seja considerado na agenda empresarial e muito menos passível ter alguma regularidade, mas o fato é que acontecem.

Fomos confrontados com algo cuja probabilidade de acontecer estaria nos lugares mais embaixo da lista de predições e planos de contingência da maioria das empresas. Ao longo dos últimos meses muitas análises foram feitas, inclusive da Inova (leia o white paper Trends Pós-Covid-19) sobre o fenômeno. No documento, desde suas origens, construção e impactos foram analisados.

Mas a grande questão que se tem colocado é: e depois? E agora? Como devemos pautar nossas prioridades e ações nas empresas. Seguidamente apresento o que consideramos (na Inova) serem as dez dicas práticas para um mundo pós-covid-19.

1. A nova jornada do cliente

Um dos grandes legados das duas primeiras décadas do século XXI, com milhares de startups surgindo, ecossistemas se desenvolvendo e uma geração inquieta e empreendedora crescendo, foi a tal da “jornada do cliente”. Entender profundamente o seu comportamento, o que é e o que não é valor, como decide a compra, como procura informações e como escolhe a marca e o fornecedor.

Puxadas pelas metodologias criadas nos ambientes de startups (metodologias ágeis), o conceito de “entender o cliente”, que não surgiu hoje, se disseminou e virou fator crítico de sucesso.

Muitas empresas, com equipes internas ou empresas de consultoria, fizeram esse trabalho e desenvolveram a sua forma de atuação, seu mix de produtos e serviços, suas estratégias de comunicação e o seu roadmap futuro. E aí chega a covid-19, que em menos de dois meses, virou o mundo e a vida das pessoas de cabeça para baixo.

Nenhum de nós será o mesmo quando a pandemia acabar. Nenhum de nós comprará mais da mesma forma e nem irá se relacionar com empresas e marcas da mesma forma. A covid-19 nos deu vários alertas para o futuro e eles mudarão a nossa forma de consumir.

Portanto a nossa dica aqui é: atualize, assim que a crise passar, a jornada do seu cliente.

2. A 2ª onda da transformação digital

Não é de hoje (e nem muito menos no pós-covid-19) que a digitalização de negócios é discutida e reconhecida como imperativa para o futuro, embora nem sempre se tenha dada a devida atenção a ela. Muitas empresas, nas últimas duas décadas, já nasceram digitais. Outras iniciaram o processo e caminham em rápida velocidade e outras até concordam que precisam fazer, mas pouco (ou nada) fizeram.

O momento imposto de reclusão despertou a necessidade de sermos mais digitais enquanto profissionais e suportados em estruturas empresariais perfeitamente alinhadas com a 4ª Revolução Industrial. E quando se fala em transformação digital, fala-se mais em transformação do que digital, que é o mesmo que dizer: “”antes de colocar tecnologia prepare e capacite as pessoas para o momento de mudança do mundo””.

O regresso pós-covid-19 deixa o legado das reuniões, apresentações, debates, aulas (e tudo o que de alguma forma está relacionado com a nossa profissão) sendo realizadas de forma digital. Novas regras de funcionamento assentadas em estruturas digitais precisam ser incrementadas, para quem já iniciou essa jornada, ou adotadas, e para quem não o fez ainda. Uma coisa é certa: sem a transformação digital em toda a linha da empresa (e não apenas nas áreas de vendas, marketing ou logística”> será muito difícil sobreviver a esta e às próximas eras de mudança.

Portanto a nossa dica aqui é: se não começou, não espere mais para começar a transformação digital.

3. A agenda de futuro e tendências

Para nós, na Inova, esse é um tema recorrente e quem nos conhece sabe a nossa convicção de como olhar para a frente ajuda a reduzir incertezas e principalmente a orientar a decisão. Viveremos o resto da vida no futuro e o passado apenas serve para aprender com ele. Neste sentido, esse momento deixa claro que quem não antecipa os cenários futuros terá de correr atrás das consequências.

A abordagem TrendsInnovation tem ao longo da última década assumido um papel importante na gestão, pela sua capacidade de mapear, identificar e direcionar a estratégia empresarial. Agora esse tema ganha especial relevância quando um fenômeno (que a maioria não considerava possível) alterou a dinâmica do mundo. Alguém pode pergunta: “”o que uma pandemia (ou outro fenômeno parecido – tsunami, terremoto etc.) tem a ver com o meu negócio?”” Precisa resposta? Tudo. Uma vez que ao mudar o curso da história e o contexto em que atuamos muda direta e indiretamente o caminho dos nossos negócios.

A análise de cenários, designada por prospectiva e foresight, e de tendências, designada por coolhunting ou trendtracking, utilizam ferramentas e metodologias específicas que devem ser incorporadas na empresa e irem além dos departamentos de pesquisa ou business intelligence, entrando decisivamente na agenda da gestão e da estratégia empresarial.

Portanto a nossa dica aqui é: reserve e direcione recursos (humanos, técnicos e financeiros) para mapear os cenários e as tendências que podem influenciar e impactar o seu negócio.

4. Entender melhor a equipe

Como já dito várias vezes, nenhum de nós sairá igual dessa crise. Só o fato de ficarmos confinados em casa por meses nos traz uma carga emocional pesada. Some-se a isso os medos do que vai acontecer no futuro próximo (economia, emprego, segurança, saúde etc.). Poucos estão preparados ou têm equilíbrio emocional para uma carga de pressão e insegurança tão forte.

Quem não perdeu o emprego e irá retornar ao ambiente de trabalho, tem várias dúvidas e perguntas na cabeça. Será que a empresa vai ficar bem? Será que vai reduzir o quadro de funcionários? Será que a carga de trabalho e pressão sobre mim irão aumentar? Será que o meu chefe mudará o seu comportamento em relação a mim?

Tudo isso, se não gerido e amenizado, irá criar um ambiente muito pesado, pouco produtivo e pouco criativo na retomada, exatamente o oposto do que queremos nas nossas equipes, concorda? Só há um caminho para evitar isso – o de transmitir apoio e tranquilidade para a equipa.

Portanto a nossa dica aqui é: tenha uma postura de acolhimento e empatia com a seu equipa na retomada.

5. Rever os papéis das pessoas no grupo de trabalho

O confinamento fez com que todos trabalhassem de casa. O home office, até então usado por poucas empresas, virou a regra e todos tiveram que aprender como se relacionar com pares, equipes, chefes, clientes e fornecedores através da tela do computador, celular ou tablet e usando ferramentas e apps de comunicação remota.

Essa nova forma de trabalho fez com que muitos mostrassem competências ou deficiências que antes não estavam à vista. Se você, gestor ou gestora, observar com muita atenção o comportamento da sua equipe durante a pandemia e o período home office, verá que algumas pessoas mostraram “coisas novas” (boas ou ruins). Atitudes, ideias e ações que antes não tinham apresentado no “”antigo normal” do ambiente de trabalho.

Pois bem, em situações atípicas como a que vivemos, novas posturas se apresentam e precisamos ficar atentos a elas. Muitas podem significar oportunidades, redefinição de funções e responsabilidades, elevando a performance do time como um todo.

Portanto a nossa dica aqui é: faça um novo censo e atualize o mapa de competências da seu equipe.

6. Rever a forma de trabalho

Vários paradigmas de décadas foram dinamitados ao longo do confinamento e do período em home office: ‘’reuniões produtivas devem ser feitas pessoalmente’’; ‘’as pessoas só trabalham com produtividade se estiverem na empresa’’; ‘’não é possível construir relações próximas com clientes e parceiros sem o contato físico’’; ‘’um líder precisa ter controle sobre o processo e o produto do trabalho’’.

Poderíamos citar muitas outras “verdades” que, em questão de semanas, se mostraram verdadeiras falácias. O que mais vemos hoje nos debates são pessoas afirmando que estão sendo muito produtivas de casa, fazendo conta de quanto tempo perdiam em deslocações, quanto a empresa gastava com viagens desnecessárias, entre outros.

O fato é que, como sempre dizemos, talvez nem um extremo e nem o outro façam sentido. Precisamos sim de contato pessoal, mas não precisa ser em 100% das vezes. É possível sim trabalhar à distância, mas não precisa ser 100% do tempo. O “”caminho do meio”, como gostamos de dizer, talvez seja o “novo normal”. E com certeza encontraremos vários e não apenas um único verdadeiro e universal.

Portanto a nossa dica aqui é: discuta e redefina com o time novos modelos e formatos de trabalho.

7. Prudência e exposição

Ainda estamos no epicentro da pandemia. Formar juízos definitivos no meio da confusão é, no mínimo, perigoso. Cravar agora quem sairá dessa crise como inocente, bandido, herói ou vilão, é um risco enorme. A roda da fortuna gira rápido. Quem hoje é herói, amanhã é bandido.

A história já mostrou que o tempo é sempre o melhor juiz. Só daqui a alguns meses (ou anos) teremos mais informações, menos carga emocional e melhores condições da formar juízos definitivos. Agora não é hora de se expor à toa. O Brasil já está polarizado há anos e, nesse momento, qualquer opinião, postagem ou comentário sobre quem está certo ou quem está errado, pode ser a faísca para debates rasos, ataques, ofensas e outras mazelas.

Quando tratamos da nossa carreira, participar dessa festa do horror pode fechar portas ou criar imagens negativas, até porque tudo o que colocamos na net, ali fica. Daqui a pouco, quando o “novo normal” começar, essas posturas podem vir à tona e atrapalhar muita coisa. Acreditamos que o silencio às vezes é o melhor aliado. Isso não é, na nossa visão, omissão ou covardia, mas sim, inteligência.

Portanto a nossa dica aqui é: tenha prudência ao fazer juízos de valor nesse momento e não se exponha à toa. O silêncio em alguns momentos, é o melhor caminho.

8. Parte da solução, não do problema

A crise causada pela covid-19 pegou a todos de surpresa. Ninguém estava preparado para ela e as soluções não estão em nenhuma prateleira ou mente. Assim, todos estão procurando a melhor solução para cada caso. A única certeza é que, se o barco afundar, todos morrem. Até as leis foram revistas frente à pandemia. Todos sabem, desde o início, que ninguém sairá ileso. Todos nós iremos dar uns passos para trás. Todos vão perder, uns mais, outros menos.

Em um cenário como esse, quem sair “vivo” (no sentido literal e figurado do termo), terá que comemorar. Em um momento como esse, é hora de deixar o que se chama de “blá-blá-blá” e se apresentar para ajudar a empresa onde trabalha a sair viva da crise. De que adianta gozar de férias normais e, quando voltar, a empresa não existir mais?

Portanto a nossa dica aqui é: procure a apresente ideias, de forma proativa, para solucionar problemas, não o contrário.

9. O legado da pandemia para você

Independente se você sairá dessa crise empregado ou não, pode ser que em breve você esteja sendo entrevistado (a) para uma nova oportunidade de trabalho. Pode escrever uma coisa na sua agenda: uma das perguntas que mais será feita em entrevistas de emprego pós-pandemia será: “”O que você fez durante o confinamento para ampliar a sua fronteira de conhecimento?””. O que você acha que acontecerá com alguém que responder “fiquei em casa, maratonando no Netflix, comendo e dormindo”?

Nós tivemos quase uma overdose de oportunidades de aprendizado durante a pandemia. Cursos online gratuitos, incontáveis lives (não apenas de cantores, mas de analistas, professores, jornalistas etc.), aulas ao vivo, tutoriais no Youtube. Ou seja, um mundo de oportunidades de aprendizado.

Além disso, podemos ajudar alguém a desenvolver alguma competência (ex: ensinar a família a fazer reuniões online e promovê-las), ajudar um vizinho de grupo de risco em algo, oferecer algum conhecimento que temos em formato digital para quem precisa, fazer algum trabalho voluntário para ajudar alguma entidade durante a pandemia. Tudo isso, exceto a inércia, conta pontos e será perguntado ali na frente. O que você fez?

Portanto a nossa dica aqui é: aproveite o confinamento e amplie a sua fronteira de conhecimento. Anote o que fez e prepare-se para contar em futuras entrevistas.

10. Postura lifelong learning

O conceito lifelong learning (educação ao longo da vida) não é novo e já falamos e defendemos ele há anos. O ritmo de mudanças faz com que verdades virem pó do dia para noite. E isso acontece também com o nosso conhecimento, que hoje praticamente tem prazo de validade (e curto).

A velocidade em que o conhecimento humano dobra é de 12 horas. Portanto se acha que domina um conteúdo, conceito ou metodologia pense melhor. Dominar informação hoje é algo muito relativo num ecossistema de quase 8 bilhões de pessoas no planeta com um sem-número de iniciativas individuais e corporativas de criação e disseminação de conteúdo.

No século 20, um MBA garantia uma certa atualização e até estabilidade profissional. Hoje, a certeza de que as verdades de ontem são as mentiras de hoje e as mentiras de hoje são as verdades de amanhã, nos deixa na posição de precisar estudar sempre. No mundo em rápida transformação vivemos, o dilema da aprendizagem: tempo, fontes de informação, conteúdos e regularidade. Hoje não faltam soluções para a nossa atualização permanente (gratuitas e pagas).

O WEF no seu relatório Future of Jobs em 2018 já antevia que precisaríamos estudar mais: 101 dias por ano adicionados à aprendizagem. O que na Inova designamos de código 101. Se 1/3 do ano será necessário dedicar à atualização e aprendizagem, fica clara a importância que as soluções digitais e de automação terão na forma com o vamos libertar o nosso tempo físico. Estaremos cada vez mais sendo postos à prova. Por isso só há um caminho neste mundo em que vivemos: estudar sempre e continuamente.

Portanto a nossa dica aqui é: adote o código 101 como mantra pessoal e empresarial, através de uma postura de lifelong learning.

Siga as dicas, envolva todos na conversa e caminhemos juntos para o futuro, com a esperança de que estamos já com a luz ao fundo do túnel e de que o pior já passou.

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Luís Rasquilha
CEO da Inova TrendsInnovation Ecosystem e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Hospital Albert Einstein e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

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